Como se eu fosse muito muito burra!!!!

«Nem uma agulha bulia na quieta melancolia dos pinheiros do caminho», ocorre-me sem cessar...não há pinheiros...nem bucólico caminho...apenas corredores brancos largos, longos, vazios, cadeiras de salas de espera sem ninguém, receções dos vários pisos inativas...saio do elevador e tenho a sensação de ter aterrado num daqueles filmes em que um qualquer vírus ameaçador obrigou à evacuação da população...viro à direita como de costume e não vislumbro vivalma ...inicio o percurso corredor fora e apenas se ouve o som dos meus passos à medida que vou avançando e sendo invadia por uma irresistível e (in)quieta melancolia...Chego quase ao meu destino e paro como sempre a ganhar fôlego...nunca sei o que vou encontrar quando franqueio aquela porta que dá acesso a uma das zonas dos quartos... e confesso que todos os dias ali paro a ganhar alento para o que vier...finalmente empurro a pesada porta e avanço...agora sim ouço gente...gemidos, pedidos, tosses...os doentes esses por certo estão lá como sempre...olho em frente e vejo vestígios de atividade de fato, um ou outro carro do equipamento para a higiene dos doentes, abandonado no meio do corredor, mais à frente um carrinho de limpeza encostado à parede...auxiliares, enfermeiros ou médicos...nem vê-los..na verdade não vi ninguém...entrei no quarto e o que encontro é a continuação do desenrolar de um fim de semana prolongado num hospital dos mais recentes e bem equipados do país, mas com uma gestão público-privada que faz dele um péssimo exemplo no dia a dia dos serviços prestados, e um terror aos fins de semana....Seja qual for o número de dias que o fim de semana tenha, mesmo nos prolongados como este, a situação é sempre a mesma pessoal em falta tendo como consequência a falta de assistência dos doentes, noites em que aqueles a quem de dia é exigido, e bem, que se esforcem para ir à casa de banho ainda que com ajuda, são nesse período obrigados a regredir na situação por não haver quem possa ou queira ajudá-los, com todo o peso que isso possa ter para a sua recuperação e desânimo...o mesmo para as imprescindíveis sessões de reabilitação, fundamentais segundo o médico, mas paradas durante três dias sem que ninguém se importe...banhos atrasados, almoços também, doentes sentados mais tempo do que deveriam ou não...mas é difícil perceber quando as respostas às perguntas colocadas vêm já em jeito de defesa e a impaciência reina...um pouco o ditado, casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão...saio triste...que hospital...que país...que profissionais...o que é isto...o que se passa ?...Como é que aqui chegámos???? E já agora onde estão as centenas de familiares visitantes com que me cruzo aos dias de semana..???.Tenho reparado que aos fins de semana quase ninguém espera por senha de visita...quase ninguém visita ninguém....mas então durante a semana que se trabalha (quem ainda trabalha)...os visitantes são mais que muitos,e ao fim de semana em que em condições normais estarão mais disponíveis, rareia quem se disponha a deslocar até lá ...ai não... não percebo..se calhar nem quero perceber, mas por favor, mesmo assim, alguém me explique o que se passa por aqui...mas devagarinho...como se eu fosse muito...muito burra!!!!