Billow!Billow!!!Billow!!! Em altos gritos e estilo guerreiro...repetido à exaustão por muitas e muitas bocas...incitando, picando...enquanto durar a luta!
Se não fazem ideia do que é para além da tradução do inglês…onda…vaga…erguer
de vaga…podem considerar-se com sorte…eu já ouvi…eu já percebi ...eu já sei!!! Infelizmente a P. também! Acontece três a quatro vezes por dia na escola dela...e em muitas outras do país. Os diretores, professores e funcionários da escola sabem do que se trata…os
pais já no mínimo ouviram falar…a impotência para resolver o problema é patética, real e comum a todos !!!
Logo numa das primeiras semanas da P. na nova escola (se estão
lembrados passou para o 5º ano e para a escola pública este ano letivo e para
uma realidade a anos luz do que a que conhecia, embora esta não seja uma escola considerada de risco ou inserida num meio complicado), ela chegou um dia mais
preocupada do que o costume…« Mãe
naquela escola acontece uma coisa assustadora»…perante o meu olhar expetante
de medo escondido continuou…« Dois ou três meninos começam a lutar…seja pelo
que for…e de repente alguém grita Guilas, Guilas, Guilas (na altura ela não
tinha percebido a palavra e em abono da verdade, pelo que percebi, cada um diz de
sua maneira e poucos saberão o que quer dizer)…então de todos os lados vêm mais
meninos a correr, juntam-se à volta dos que lutam e começam a lutar também»…«
Mas é uma luta de grupos uns contra os outros filha?»…«Não mãe, fica mesmo uma
multidão de meninos de todos os anos...lutam por lutar, os que chegam nem sabem
porque é que os outros começaram e mete medo mãe porque à vezes alguns ficam
mesmo muito magoados»…« Então e os vigilantes da escola…não fazem nada???» … (o
espanto e o medo invadiam-me o corpo aos poucos imaginando-a desprotegida e
apanhada numa confusão daquelas…o pensamento corria a mil a procurar razões,
soluções, mas a voz consegui mantê-la calma numa tentativa de não a assustar
mais)…«Só o senhor R. (um dos seguranças da escola) é que se mete nisso e consegue fazer alguma coisa…mas
eles começam as lutas longe dele...e ele é só um!!!»…«E quando ouves esses gritos
e vês todos a correr para lá o que fazes filhota ?»…a filhota sorriu, embora
continuasse a perceber-lhe o medo…« Corro na direção contrária mãe!!!»..Não
pude deixar de sorrir também e de a abraçar, muito…muito forte!!! Minha fadinha
de imaginários sonhos, meu cristalzinho, minha menina tão frágil e tão forte…tão
convicta contra a violência, sempre tão solícita e meiga, sempre tão pronta a
ajudar quem precisa…como serão verdadeiramente os teus dias naquela escola
minha querida???
Esta conversa e a necessidade que senti de perceber a
escola, acompanhar os problemas e contribuir para a solução fez-me entrar de
imediato para a Associação de Pais, onde o que a P. tinha relatado me foi
confirmado com pormenores, inclusivamente pelos seguranças da escola que, sendo
apenas dois e ficando um à porta de entrada, não conseguem gerir o problema que surge nos vários espaços do recreio…As empregadas dos pavilhões, depois de algumas terem
tentado intervir e terem sido atacadas também, saindo da experiência com várias
equimoses, agora ao ouvirem o grito de chamada, desaparecem ocupadas em outras súbitas
funções…e nem sei se as pudemos culpar…não têm quem as defenda também!
De tudo isto, que daria um post ainda bem mais longo do que este, retenho o que mais me choca…o prazer da violência pela violência demonstrado
por crianças dos 10 aos 14 anos…a presteza com que os outros acorrem ao
chamamento…uns para lutar na confusão sem saber com quem ou porquê…outros para
se rirem dos que saem magoados e da confusão em si, sem se questionarem sobre o
que aquilo é…a certeza de que muitos desses meninos violentos trazem a
violência de dentro de casa e a revolta no coração gerando mais violência…a
impotência da escola, que enfrenta a redução do pessoal auxiliar de educação na
resolução destas e outras ocorrências…a pouca atenção dada pelos governantes aos problemas da população, que se refletem na escola e em todos os espaços de vida
das crianças que deveriam ser o promissor futuro deste país!!!
Mas quero ter esperança e vou ter…e pelo menos nesta escola, vou lutar na medida da minha capacidade e dar o meu pequeno contributo…para o
tanto que há a fazer!
Bem hajam meus amigos!