A difícil arte de julgar !!! (Desafio rostos da diferença)

Cá estamos para mais um testemunho no Desafio Rostos da Diferença, desta vez com a participação da querida amiga do blogue Lírio Selvagem II. Um relato a fazer-nos pensar nas vezes que nos apressamos a julgar pelo era suposto ou porque nos disseram!!! Obrigada Lírio, grande lição!!!

Enquanto andava na faculdade e como não sou pessoa de ficar parada arranjei trabalho na recepção de um hotel de luxo em Vilamoura
Era um hotel já com longos anos (muitos problemas) mas na época era dos poucos na zona a ter o estatuto de 5*.
Acontece que esta unidade hoteleira tinha um contrato com a Tap e recebia tripulações em curso entre voos. Eram pessoas arrogantes (alvo raras excepções) que exigiam este mundo e o outro como se fossem seres superiores e nós meros serviçais.
Nunca pediam,exigiam!
Nunca perguntavam, afirmavam!
Consideravam-se reis do hotel, e eu no auge dos meus 20 anos sentia-me coagida na presença deles.
Lembro-me de ter ficado com dores de estômago quando o meu chefe me disse que trabalharia nessa passagem de ano, eu sabia que havia duas tripulações a chegar, a noite prometia...e não seria nada de bom.
Chegaram barulhentos, arrogantes e autoritários, e com eles um comandante com má fama entre os meus colegas. Diziam que era o pior deles...
Era um homem que rondava os quarenta anos, cabelo já meio grisalho, alto, não fossem os conselhos dos meus colegas que me alertaram para o seu mau feitio e até o poderia achar atraente.
Quando lhe fiz o check in, mostrou-se calado e bastante sério. Pediu-me o despertar para as 7 horas para a sua tripulação agarrou a mala e despediu-se com "boa noite".
Ufaaaaaaaaaaaaa...boa noite queria dizer que já não tinha de aturar os seus "chiliques" de prima dona.
A noite ia alta, a música do bar entoava pela recepção adentro, a meia noite aproximava-se a passos largos.
Como não havia movimento, o meu colega saiu mais cedo e foi comemorar com a família, fiquei apenas eu e o porteiro até ao próximo turno que seria dali a uma hora.
Encostada ao balcão da recepção olhava para o relógio na expectativa que ele andasse mais depressa que o normal, mas nada disso...faltavam cinco minutos para a meia noite e parecia que o ponteiro tinha bloqueado ali.
Nesse momento ouvi o som do elevador a descer...Oh meu Deus (pensei) que problemas virão por aí...
A porta abriu-se e vi o comandante da Tap, de calças de ganga, camisa branca e sorriso aberto, vinha descalço e nas mãos trazia uma garrafa de champagne e três copos.
Dirigiu-se à recepção entregou-me um copo, chamou o porteiro, entregou-lhe outro copo e disse: "Ainda vamos a tempo de brindar ao Ano Novo, não?"...quando acabou de encher os copos já os fogos incendiavam o céu de Vilamoura, brindamos e sorrimos entre nós. O temível comandante estava ali na recepção, descalço de calças de ganga a brindar com os empregados do hotel, em vez de estar no bar com os colegas.

Lição: Nunca julgar alguém por aquilo que dizem dessa pessoa, esperar sempre para fazer o seu próprio julgamento, porque podemos ser surpreendidos como eu fui no reveillon do ano 2000".

Beijinhos Maria

Lírio Selvagem

Acho que depois disto hesitaremos em julgar à primeira vista...quem sabe não se trata afinal de um rosto da diferença???

Bom dia e bem hajam queridos amigos!