
Um carta das Finanças (leia-se Alta Autoridade tributária),
inesperada, inexplicável, estranha, assustadora, meio insolente e deveras
ameaçadora em verbo e conteúdo , pôs-me a caminho da repartição da minha área
em caráter de urgência e a meio de um dia de trabalho deveras agitado e com
tarefas que tive de deixar outros a resolver por mim, ainda que tal me
desespere verdadeiramente… Segui no entanto certa de que tudo era um engano e
que, como tal, se resolveria rapidamente se conseguisse chegar depressa ao meu
destino…Só a meio do percurso me lembrei
que o dito serviço fechava à hora de almoço e preparei-me então para esperar
pelas duas da tarde, hora em que reabriria, garantindo dos primeiros lugares da
fila chegando por volta da uma e quinze…A partir dessa altura a fila cresceu
sempre…e à medida que se aproximava a hora de abrir notava-se a agitação
crescente de quem por ali aguardava…alguns na pressa de ser atendidos tiravam
já da carteira o cartão de cidadão ou reliam a notificação que ali os trouxera.
Dez minutos antes da hora a esperança de ver entrar os funcionários que
garantiriam a abertura podia sentir-se no ar e nos pescoços esticados de
alguns, espreitando pelos vidros na tentativa de vislumbrar lá dentro algum
movimento. Ao contrário do que esperávamos e repentinamente saíram vários funcionários…passo
lento…amena conversa obviamente a caminho do café mais próximo…Na fila
entreolhámo-nos
enquanto nos relógios confirmávamos a impossibilidade concreta
de que a abertura fosse pontual se dependesse dos que haviam saído…Na verdade
voltaram cinco minutos depois das duas e como os protestos já se faziam ouvir
deixaram a porta aberta e desapareceram no interior da repartição….Seguir-se-iam
mais dez minutos de uma cena caricata….cerca de quarenta pessoas de senha na
mão perante quadros eletrónicos parados e balcões de cadeiras vazias...num
ambiente com “zumzum” de fundo onde se
destacavam conversa alta e gargalhadas….Passavam 15 minutos da abertura da
porta quando o primeiro funcionário começou a preparar a sua cadeira para se
sentar…vagarosamente…sem pressas…alheio a quem estava ou esperava. Um pouco
mais tarde chegou aquele que me chamaria, e embora extremamente indignada, avancei diretamente, sem comentários para o
que me levava ali lembrando-me dos colegas que no meu trabalho precisavam de mim…Identificado
o problema derivado de uma informação errada
dada na mesmíssima repartição uns tempos antes e um «Não nos responsabilizamos
por isso minha senhora…» depois, faltava apenas imprimir uma guia para que eu saísse
dali…mas não…O dito funcionário premiu uma ou duas teclas no computador…
olhou-me sobre os óculos e atirou-me completamente indiferente à minha situação
ou à ironia da sua frase… « O sistema foi abaixo…é costume…volte depois…».
Não me levem a mal os funcionários públicos, também sou…e
bem sei que há bons e maus profissionais…e que eles não se encontram
exclusivamente ao serviço do Estado, mas não posso perante mais um dos muitos
exemplos de ineficácia do sistema e displicência dos funcionários num serviço
público, deixar de me inquirir para onde vai este país…! Não sendo que passemos a aplicar indiscriminadamente a técnica do Keep calm e espera sentado !!! Haja paciência!!!!
Bom dia e bem hajam queridos amigos!