
Na linha da frente!!! Ontem faleceu o pai do padrinho dos meus
filhotes, meu de casamento, grande amigo quase irmão do maridão…no final do ano
tinha falecido a minha madrinha…muitos conhecidos e amigos de idades
semelhantes fizeram durante os últimos dois anos a sua derradeira viagem. Na
família, os meus pais estão dia a dia mais fragilizados (embora a minha mãe
tenha recuperado espetacularmente do AVC de 2013). Nesta fase e devido a uma
evolução enorme no envelhecimento, num curto espaço de tempo, já me custa a
perceber quem está mais frágil, se o meu pai se a minha mãe. A cada gesto
hesitante…a cada olhar mais indeciso mais desistente…a cada passo mais lento e
difícil, lembro momentos literalmente opostos em que eram as pessoas fortes,
alegres, dinâmicas e mágicas que aprendi a amar e me ensinaram a trilhar os
caminhos da vida…E mesmo que saiba que a vida é mesmo assim e que as etapas são
estas sem apelo nem agravo…sou invadida por uma subtil mas avassaladora
tristeza…Sei-os na linha da frente…por mais que me custe enfrentar essa
realidade para a qual por mais que faça nunca estarei preparada. Na linha da
frente onde chegaremos todos…mais tarde ou mais cedo… a nosso tempo!!!
Não posso deixar de partilhar convosco um texto que li ontem
de um autor, que nem sempre reúne o consenso das minhas preferências mas que
desta vez como noutras, me fascinou pela sua sabedoria e pertinência …deixo-vos
com Miguel Esteves Cardoso!
«Quando se
é novo, aquilo que se quer é descobrir.
Quando se é velho, aprende-se que o verbo
correspondente é prescindir.
Quanto mais se descobriu, mais se tem de
prescindir.
Ponhamos as coisas no plano mais simples
(aquilo que fazemos e comemos) para mais
bem percebermos o sacrifício.
Nos últimos 15 anos, por exemplo,
prescindi da frutose e da sucrose,
do vinho, da manteiga, do pão branco, do
arroz, da batata
e de todos os outros hidratos de carbono
que são açúcares mais ou menos
disfarçados.
Prescindir é como morrer aos bocadinhos.
É melhor do que morrer de repente,
mas é pior do que perceber que se morre
mais depressa
se continuarmos a viver como se fôssemos
novos.
Prescindir é o contrário de abraçar a
vida:
é dar-lhe cotoveladas repetidas.
Prescindir é abdicar de ser-se novo (e
logo imortal).
Prescindir é a prática sensata de
eliminar, um a um, os disparates,
as inconsciências e as venetas de cada uma
das nossas vidas.
Quanto mais me aproximo da minha morte,
mais me envergonham os truques para
adiá-la,
sabendo perfeitamente que jamais poderei
evitar a morte
que segura e saudavelmente me espera,
rindo-se baixinho das minhas tentativas de
desafiá-la.
Viver é querer, descobrir e amar.
Não querer morrer é sórdido, estúpido e
banal.
Mas infinitamente humano.
Entre querer prolongar a vida e ter medo
de morrer
não cabe um único duque de um baralho de
cartas.
Prescindo, logo ainda mando em mim.
Prescindo porque já vou a caminho.
Arrastando os pés, como um puto.»
PÚBLICO, QUA 11 FEV 2015
Bom dia e bem hajam queridos amigos!!!!